É curioso como a incapacidade e a preguiça de planejar certas coisas proporcionam momentos únicos na vida de certas pessoas. Mas convenhamos, planejar é muito chato e correr riscos é muito mais divertido. Principalmente quando se trata de três almas despreocupadamente inconsequentes.
Antes de uma viagem por locais desconhecidos, a maioria das pessoas geralmente faz um roteiro de viagem, se municiam de mapas, GPS, bússolas (ok, exagerei), fazem reserva em algum hotel ou pousada na cidade que desejam chegar... enfim, planejam cuidadosamente, com antecedência, cada passo que irão dar a cada quilômetro rodado para evitar transtornos desnecessários.
Era final de tarde de algum dia de dezembro de 2010 e, como de costume, estávamos apreciando algumas cervejas num boteco conhecido da cidade de Camaçari, quando surgiu a ideia de passar o réveillon na praia. Original, não? Mas a praia sugerida era em Aracaju. E o melhor: A viagem seria feita de carro, coisa que nunca tínhamos feito antes. Combinamos, então, de nos encontrarmos dois dias antes da viagem para planejar tudo. A “reunião” foi no mesmo bar e tudo que fizemos foi beber. Planejar? Pra quê?
Na noite do dia 30 entramos em contato pra marcar o local e o horário de saída. Nos encontramos e lá fomos nós, três velhos amigos, rumo ao desconhecido. Levamos algumas roupas – duas ou três – mas nada para comer ou beber (me refiro à água). Tínhamos vários giga bytes de música, e isso era tudo que precisávamos, antes é claro de nosso amigo Rosário soltar seu velho, conhecido e constante bordão: “tô com fome!”. O plano – obviamente feito já durante a viagem – era parar em algum posto e abastecer o carro e nossos estômagos também.
Já deixávamos os limites da cidade quando resolvemos decidir qual o melhor caminho para chegar à capital sergipana (exato. Decidimos o roteiro durante a viagem). Naturalmente recorremos à Deus – me refiro ao Deus Google e seu fascinante Google maps – para nos guiar pelas sinuosas estradas do litoral baiano (a tecnologia não é maravilhosa?). Mas descobrimos que Google não é tão onipotente assim (ou nós é que somos muito idiotas e não sabemos seguir um mapa) e acabamos nos perdendo, mas obviamente ainda não tínhamos admitido isso. Então paramos em um boteco de beira de estrada; e aqui vale ressaltar uma observação feita pelo camarada Di Paula: “Se tem uma coisa que não falta na estrada é bar! Não vi nenhum hospital até agora!”.
Entramos naquela pocilga empoeirada e pedimos algumas garrafas d’água. Depois de um tempo, perguntamos para o simpático senhor qual o melhor caminho para chegar até à Linha Verde (rodovia que nos levaria até nosso destino), e ele apontou para uma estrada que estava logo à nossa frente. Terminamos de beber a água e depois de comprar alguns mantimentos para o resto da viagem (balas e doces de amendoim) seguimos pela estrada indicada. No início tudo corria bem, a pista era bem pavimentada e bem sinalizada, até o asfalto começar a sumir e dar lugar a uma estrada de terra e cascalho.
O caminho era deserto e os buracos na pista lembravam a superfície lunar. Não vimos sinais de civilização por quilômetros. De repente vimos um ônibus vindo em direção contrária (e logo depois uma distinta senhorita que urinava graciosamente no fundo de um ônibus parado) e deduzimos que aquela estrada não levava direto ao inferno, que talvez aquele fosse realmente o caminho certo, o problema é que nunca terminava e as condições da pista tornava a viagem cada vez mais perigosa, pois no caso de um pneu furado, não teria como trocar já que não tínhamos um macaco hidráulico nem chave-de-roda (foi burrice sair sem estes equipamentos, eu sei, mas não planejamos, lembram-se?).
O melhor era a nossa expectativa de que a qualquer momento o asfalto da pista ia surgir e chegaríamos à Linha Verde. Minha irritação era visível, quando o Sr. Rosário começou a rir, isso mesmo, ele estava rindo, imaginando os palavrões que eu soltaria caso não conseguíssemos sair daquela estrada. Falei para o próprio depois que, caso eu não estivesse dirigindo, encheria a fuça dele de socos. Mas não foi necessário partir para agressões físicas.
Quando já estávamos quase perdendo a esperança, eis que Rosário avista no horizonte alguns carros trafegando, foi aí que percebemos que a estrada do inferno chegava ao fim e estávamos diante da Linha Verde. Gritamos como se fora um gol da Seleção brasileira em final de Copa do Mundo. Paramos o carro diante da rodovia, para descansar um pouco e para registrar o momento. Há alguns metros dali havia um posto, então paramos lá para almoçar.
Depois de nos recuperarmos da estrada do inferno, de almoçar e descansar, seguimos viagem, agora pelo caminho certo, rumo à cidade de Aracaju. A viagem foi tranquila e chegamos já no cair da noite na capital sergipana. Chegando lá a primeira providência deveria ser procurar um local para nos hospedarmos, considerando que deveria ter bem poucos quartos disponíveis, mas nós não somos assim. Tentamos achar onde seria o local da festa primeiro, para aí sim, tentar achar um local próximo para ficarmos.
Por sorte – quem diria – conseguimos um quarto adequado próximo ao local da festa. E depois de nos limparmos da sujeira da estrada, trocar de roupas e nos alimentarmos, fomos em direção à festa. Não eram nossos cantores e bandas favoritos (entre eles Diogo Nogueira e Margareth Menezes), mas estávamos nos divertindo. A meia noite chegou e o show pirotécnico foi muito bem feito. Já era 2011, quando “descobrimos” que do outro lado da praia rolava uma rave, naturalmente foi onde ficamos. Depois de algumas bebidas e de “dançar” um pouco, voltamos cedo para a pousada (mais ou menos às 04h20min) pois a volta para casa seria no dia seguinte e era preciso descansar um pouco.
A volta, naturalmente, foi bem tranquila, pois já conhecíamos o caminho (se bem que, do jeito que somos desorientados, o risco de se perder de novo existia). Enfim, essa foi a epopeia de réveillon de três bons e velhos amigos. Essa coisa toda de réveillon, de virada do ano, não é uma coisa que nos comova tanto quanto comove a maioria das pessoas, mas era a chance de nos divertirmos, como nos velhos tempos. E apesar de todos os percalços durante a viagem, foi bem divertido... Final do ano tem mais... E dessa vez, sem atalhos na estrada!
"Di Paula e Rosário, vocês são foda, manos!"