Acordei de ressaca num quarto escuro de algum motel vagabundo. Ainda cambaleante, procuro por minhas roupas, quando percebo as algemas presas em meu pulso esquerdo – ela teve a bondade de me soltar antes de ir – acho que isso fez parte das “brincadeiras” da última noite. Noite que começou com uma aposta vencida – gosto de apostar em esportes (boxe, NBA, F1, e é claro, futebol), acho que é a única coisa que entendo. Com dinheiro sobrando, fui curtir a noite sozinho, como sempre. Depois de um show de uma banda de brit-pop-brasileiro, num conhecido bar da cidade, de algumas cervejas e poucas doses de vodka, resolvi explorar o lado Red Light District da metrópole, pela primeira vez.
Ouvi um som familiar vindo de uma porta discreta numa rua levemente iluminada e resolvi entrar. Ao passar pela revista do segurança, que mais parecia um cover do Evander Hollyfield nos bons tempos, vi uma loira de corpo escultural dançando seminua, em um palco com um poste no meio, e o melhor, ao som de “Dirt” do Alice in Chains (este era o som familiar), para a felicidade dos meus tímpanos cansados, e é claro, dos meus olhos também. Com uma trilha sonora dessas, não tive dúvidas de que ficaria ali naquela noite.
Enquanto a maioria dos caras observavam maravilhados àquela demonstração de desinibição e ousadia da moça – admito que era de impressionar – eu , por minha vez, preferi sentar no bar para apreciar algumas bebidas, já que minha noite etílica era fraca, até então, e eu também já passei da idade de me empolgar tanto com nudez gratuita. Claro que, de vez em quando, observava o show, mesmo de longe. Embora a apresentação estivesse deveras interessante, a garota do bar me chamou mais a atenção. Ela entendia de bebidas, dizia-se bartender. Me chamou de simplista, por pedir apenas bebidas puras (disse que eu não gostava de arriscar por medo de errar, uma ofensa para um jogador). Já me chamaram de muita coisa, menos de simplista. Ok, ela conseguiu minha atenção.
Ela não era dessas mulheres que despertam a curiosidade pelo corpo, como a loira que dançava no palco (que a essa altura já não vestia mais nada além de uma pulseira), tinha uma beleza enigmática por trás daqueles olhos grandes e maliciosamente tímidos, que fazem você querer desvendá-la, mas com cautela. Cabelos pretos cortados na altura do pescoço, uma pele dourada decorada com coloridas tatuagens... Ela tinha um ar meio Brody Dalle, mas não tão agressiva, pelo menos no visual. Por algum motivo ela também se interessou por mim, pois àquela altura já nem dava atenção aos outros clientes do bar, e fazia questão de ensinar a preparar cada drink que me servia.
Conversamos bastante, descobrimos muitas coisas em comum e lá pelas 2h30 da madrugada, ela deixou o bar para a outra garçonete e sentou-se comigo para beber também. E antes de tomar o primeiro gole de cerveja, ela me beijou, e vendo minha surpresa, perguntou: “Que foi? Pra quê perder tempo?”. E não perdemos. Depois de uns drinks a mais, saímos do bar. O resto da história, já dá pra imaginar. A impulsividade e a intensidade... A leveza e a agressividade... A sutileza e a paixão...
Surpreendente e incomparável até o fim...
Depois de tomar banho no banheiro do quarto, visto minhas roupas e saio do motel. Um dia de sol no inverno à beira da praia, depois de caminhar um pouco. Não estou derretendo dentro do meu terno surrado, pois, apesar do sol, não faz calor e uma brisa gelada que sopra do mar faz os corredores matinais usarem mais roupas que o usual. Paro em frente ao atlântico e sento num banco na calçada. Amarro o cadarço do meu tênis surrado, acendo meu último cigarro e com um leve sorriso de canto de boca, lembro, em fragmentos, da noite anterior. Da aposta vencida, daquela banda de brit-pop, do bar de strippers e da bartender girl, de quem sequer me lembrei de perguntar o nome.
Mexo no bolso esquerdo do blazer e encontro um papel amassado. Número e o nome dela; Frida... Exótico, quase erótico... E ela tão meiga e agressiva ao mesmo tempo, quase imperceptível e tão cativante, um ar desafiador por trás daquela timidez atraente, um senso de humor inocentemente ácido... E aqueles olhos grandes, aquele olhar penetrante que intimida e ao mesmo tempo faz-te querer ser destroçado por sua volúpia disfarçada. Como eu fui. Tão linda, tão... O tipo da garota pela qual eu me apaixonaria... Daquelas que te fazem cometer devaneios impensáveis para conseguir o mínimo da atenção dela, dessas que destroçam seu coração por fazer questão de demonstrar que não precisa de você, que te fazem expor a fraqueza que você se esforça pra mostrar que não tem... E tudo o que tenho que fazer é ficar longe dela... Isso resolve tudo... (joguei no mar aquele pedaço de papel amassado)
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