quarta-feira, 4 de maio de 2011

CELEBRAÇÃO DO MEDO

Quem não se lembra do 11 de setembro de 2001? Da imagem das torres do World Trade Center, em New York, em chamas como num filme apocalíptico do Roland Emmerich. Do desespero de quem fugia do local do atentado, da revolta de boa parte do mundo ocidental, quando o auto-proclamado autor do atentado, Osama Bin Laden, revelou-se para o planeta. Lembro também que em muitos países do Oriente Médio, muitas pessoas, que nutriam o sentimento anti-americano, saíram às ruas para comemorar o sucesso do ataque ao coração da “capital do mundo”, ao símbolo maior do capitalismo e do “american way of life”. Sim, lembro de muita gente por aqui que achou um absurdo a alegria dessas pessoas diante de ato tão desumano.

Quase dez anos depois, após caçada implacável em cavernas nas montanhas do oriente, que resultou em duas guerras, em dois países diferentes, muitas vidas de inocentes perdidas, instabilidade na economia mundial, dúvida da sanidade mental do então presidente estadunidense George Walker Bush, eis que as agências de notícias do mundo inteiro noticiam na madrugada de segunda-feira que o homem mais procurado do planeta fora finalmente morto por tropas americanas. Resultado: Festa na terra dos Yankees! A população saindo às ruas, com tremulantes bandeiras americanas, celebrando mais efusivamente que nós brasileiros quando a Seleção nacional de futebol retorna do exterior com a Copa do Mundo. Sim, as pessoas estavam felizes; felizes porque um homem foi assassinado.

Bem, todos sabem que Osama Bin Laden não era uma boa pessoa, que orquestrava atentados em todo o mundo, que tirou a vida de vários inocentes, usando e distorcendo a religião que nada tem a ver com as atrocidades que ele cometia. Não estou questionando se ele merecia ou não morrer, talvez até merecesse. Mas a cena de pessoas comemorando a morte de outra, estejam elas no oriente, no ocidente, no norte ou no sul, como se fosse uma festa, simplesmente não entra na minha cabeça. Esta é a humanidade que estamos construindo? Que simplesmente adota a vingança como política em troca de popularidade? Que festeja a morte de outros seres humanos com tanta euforia? Sinceramente não entendo...

Entendo que se sintam aliviados por um terrorista não estar mais entre os vivos, que ele não pode mais fazer mal a ninguém, – não que a morte dele tenha sanado a ameaça terrorista no mundo – mas promover uma celebração coletiva com sorrisos e com tanta paixão, pela morte de seres humanos? Não me refiro apenas aos norte-americanos, mas também àqueles que lá no oriente, em 2001 também celebraram as mortes no World Trade Center. Somos tão bárbaros assim mesmo? É isso que chamamos de civilização? É assim que nos auto-intitulamos evoluídos? Se for isso que chamamos de humanidade, tenho vergonha de fazer parte dela.

Os noticiários e o governo americano tentam passar uma imagem de vitoriosos, propagam que “venceram a ameaça”, que o mundo é um lugar melhor agora, que Osama Bin Laden foi derrotado. Bem, o planeta vive em permanente estado alerta, as sociedades, tanto ocidentais quantos as orientais aumentam diariamente seus níveis de segurança, os próprios Estados Unidos da América vivem a paranóia da segurança extrema, onde qualquer incêndio em pet shop, vira suspeita de terrorismo. Estão governados pelo medo. E mesmo assim acham que venceram? Se isso é vitória, o preço foi alto demais.

3 comentários:

  1. Amigo, concordo plenamente com vc e estava ontem também pensando no sorriso e comemoração das pessoas...
    Adorei o texto!

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  2. Excelente reflexão! Muitas pessoas que comemoraram as mortes de seres humanos ainda estão na "escuridão". É preciso de luz, como a do seu texto, para iluminar a cabeça de quem trata o mundo como um campo de batalhas.

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  3. Pois é, Flávia e Lucas. Nessa história de "olho por olho, dente por dente", todo mundo acaba cego e banguela...

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