quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

A GLÓRIA DA QUEDA

Aquele céu cinzento fitou-me severamente. Desafiou-me a mergulhar em sua densa melancolia. Mal dava pra ver o azul através daquelas fendas tímidas entre as nuvens. Ali a luz do deus sol atravessava e atingia meus olhos, como um chamado para uma batalha. Ele, disfarçadamente, impeliu-me a contemplar sua coroa mais de perto, até que o calor me empurrasse para baixo, fazendo-me fugir do fogo que me consumia. Aquele mergulho no infinito, e junto o vento que mal permitia-me abrir os olhos para admirar a beleza na imensidão.

Eu era leve. Escutava tudo e ao mesmo tempo nada, mas a recompensa era a sensação; de estar sozinho, de ter, mesmo por poucos minutos, o mundo e o silêncio aos meus pés. Era como deitar nas nuvens, repousar minhas dúvidas no fundo de um poço escuro e esquecê-las. Eu era apenas eu; sem sombras, sem medos, sem receios, e no rosto aquele sorriso que não sei dar. Era o único plano traçado... O desfecho de uma jornada insignificante... A queda do esquecimento eterno.

E como eles rezaram, oraram, pediram, condenaram... Não sabem a sensação, não sabem da angústia, não conhecem a claustrofobia mental... Não sou culpado, nem inocente, apenas vivo... Vivi... Pouco tempo para se arrepender. E quando os mundos lá dentro desmoronaram, só sobrou o vácuo, o vazio, as estrelas mortas e seu brilho opaco... Aquele brilho que apaguei dos meus olhos há muito tempo, aquele brilho que voltou naquele instante que eu caí... Naquela fração de segundo em que meu corpo quebrou-se em pedaços...

Um comentário:

  1. Bom, não me canso em dizer que você tem o dom das palavras e o quanto te admiro por isso. Mesmo com um tom mórbido, você consegue captar toda a essência e acaba trazendo tudo à tona para aqueles que estão lendo. Aquela sensação de nostalgia ao se deparar com o céu azul, procurando um horizonte, contemplando a beleza do todo e em instantes acordar para a triste realidade, se vendo afundar nas inseguranças, incertezas, angústias e a recorrente melancolia.
    Poucas pessoas conseguem transmitir fielmente ao leitor o que estão sentindo, e você consegue fazer isso muito bem.
    Mesmo não tendo nenhuma linguagem chula acho que meu comentário pode ser levado em consideração, não é?! rsrs...

    Carpe Diem meu caro

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