
Eu era leve. Escutava tudo e ao mesmo tempo nada, mas a recompensa era a sensação; de estar sozinho, de ter, mesmo por poucos minutos, o mundo e o silêncio aos meus pés. Era como deitar nas nuvens, repousar minhas dúvidas no fundo de um poço escuro e esquecê-las. Eu era apenas eu; sem sombras, sem medos, sem receios, e no rosto aquele sorriso que não sei dar. Era o único plano traçado... O desfecho de uma jornada insignificante... A queda do esquecimento eterno.
E como eles rezaram, oraram, pediram, condenaram... Não sabem a sensação, não sabem da angústia, não conhecem a claustrofobia mental... Não sou culpado, nem inocente, apenas vivo... Vivi... Pouco tempo para se arrepender. E quando os mundos lá dentro desmoronaram, só sobrou o vácuo, o vazio, as estrelas mortas e seu brilho opaco... Aquele brilho que apaguei dos meus olhos há muito tempo, aquele brilho que voltou naquele instante que eu caí... Naquela fração de segundo em que meu corpo quebrou-se em pedaços...