quinta-feira, 24 de março de 2011

DOCE PESADELO

Uma noite de inverno, e o clichê em forma de chuva. Pergunto-me onde estou, de onde venho, questiono minha sobriedade e constato minha falta de reflexos. Caminho cambaleante por uma rua desconhecida. O frio ainda não incomoda, não tanto quanto meus tênis molhados. E agora minha mente retorna, chacoalhante como um terremoto.


Ainda tento acender um cigarro, mas a chuva insiste em apagar a chama do isqueiro. Minha capacidade de autodestruição torna-se cada vez mais insaciável, perco meu senso de direção. Anseio por achar um bar aberto, mas esta cidade costuma dormir mais cedo do que minha vontade de sair da realidade.


Não havia sol em meus olhos opacos, não havia esboço de sorriso em meu rosto carrancudo e não havia esperança em minhas poucas palavras, proferidas com a desilusão de um condenado leproso. As odes que escrevi, os poemas que declamei, os versos que me acordaram no meio da noite. Tudo em vão.


Penso no que parece ser um rascunho mal-feito de um roteiro de uma vida desgraçada. Apenas eu. E enquanto a chuva leva minha embriaguez, consigo limpar meus pensamentos, hipnotizado por minha última alucinação; aquela silhueta curvilínea e seu perfume inconfundível que entorpece meus sentidos. Uma doce miragem.


O vento sibila, sordidamente frio em meus ouvidos. A chuva dá uma trégua em nossa cumplicidade recente, permite que eu acenda um cigarro. Acalma meus pensamentos, que ricocheteavam freneticamente em minha mente claustrofóbica. E é só isso; uma caminhada sem rumo, sem sentido, a inércia que me faz querer atingir o solo com força, o esforço que nunca fiz por mim. 


Chego em casa, ainda é madrugada na cidade dos mortos. Ouço o som dos sonos ao redor se misturando ao silêncio perturbador; ecoam como tambores de guerra em minha cabeça. Meus olhos secos pedem descanso; a insônia não é generosa como a chuva. Deito no escuro e imagino como é sonhar com seu mais lindo desejo; sonhar sem ter que acordar para descobrir que tudo não passou de um sonho...

"E tudo parecia nada..."

sexta-feira, 4 de março de 2011

VÍCIO


















O coração ainda acelera
O fôlego ainda foge
A inspiração e a transpiração
Aquela incerteza intrigante
Dos dias que (não) virão
Da beleza dos sonhos esquecidos
Do doce sabor do vício
Vem o pudor da ansiedade
O lindo terrorismo da saudade
Depois da despedida, a noite vazia
Depois do beijo, o desejo
Então a dúvida angustia
E na solidão da estrada
O inferno como jornada
Sangue que endurece o coração
Desvanecendo o medo
Desencorajando a frustração
Olhos que se fecham no escuro
Anseiam pelo sono profundo
Sonho de uma breve eternidade
Suaviza e entorpece a alma
A sensação de acalmar a dor
A vontade de esquecer o pudor
Da agonia mental da claustrofobia
Incontrolável desejo de se perder
De ser, de perecer... Sem merecer (?)
Lembrar daqueles olhos...
Lembra o doce sabor do vício...

Amor é suicídio...