segunda-feira, 21 de setembro de 2009

MELODIA MUDA




Ele percebeu que o quarto se tornava cada vez menor. Mas, não eram as paredes que estreitavam o espaço outrora confortável, e sim o tempo que se esgotava enquanto ele perecia na estagnação de sua alma.

Por anos se deitou na mesma cama, contemplou o envelhecimento daquelas telhas de cerâmica. A mesma cidade, o mesmo bairro, a mesma rua, o mesmo lar, a vizinhança detestável e uma vontade de desaparecer que lhe aprisionava.

Pensava estar condenado à reclusão perpétua naquela prisão suburbana. Os pensamentos flutuavam espaçadamente. Podia prever o futuro olhando para o passado e vivendo o presente.

Sabia que não se tornaria grande coisa, que o tempo que desperdiçou cometendo erros em demasia perdeu-se no espaço e que uma breve sensação de triunfo chegaria e se esgotaria tão rápido que não seria possível desfrutá-la.

Porém, não sabia até quando se questionaria sobre sua existência e da sua falta de entusiasmo em viver. Não pretendia interromper o ciclo, não buscava auto-satisfação, mas, a melodia ainda o fazia levitar.

Mas, apesar das muitas indagações e das desconfianças a respeito de outros, quis se camuflar, se misturar à paisagem, mesmo sabendo ter uma aura negativa. E muito embora não soubesse onde o ponteiro pararia, de uma coisa tinha certeza... não seria um fim glorioso... e não iria demorar...


Para Helen... (As coisas irão melhorar, acredite.)