sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

RIO SECO


Sombras ao norte e presságios perversos me puxam como gravidade e o ciclo inevitável que segue tem o odor amargo do dejavu. Enquanto a paranóia cresce, tento desesperadamente cessar as concatenações conspiratórias feitas involuntariamente. Olho no fundo da mente e encontro o desejo oculto de ignorar o que vejo no coração das pessoas, perturbado por enxergar apenas o lado obscuro de suas almas.

Envolto na densa e cínica névoa da natureza humana, sem poder me libertar, os pesadelos parecem confortáveis diante do mundo no qual acordo, embora veja com clareza onde é o fim, o medo é inevitável e meus olhos doem.

Minha conduta é questionada, uma aberração, uma anomalia perturbando o equlíbrio natural. Prezar por sorrisos artificiais, aderir a toda a sinceridade plastificada, esconder-se atrás de uma personalidade oca e se perder num labirinto vazio, sem fim, sem dor.

Esqueço todas as dúvidas, vislumbro apenas a superficie, sinto meu ódio desvanecer e tento não sangrar. O jogo é simples, demorei a aprender, mas minhas cordas estão soltas, marionetes não têm vontade nem vida. A adaptação de um verme longe de casa, fingindo não ser nocivo, ainda vivo, repousa num inferno recriado.

Mas algum dia, quando o curso do rio for mudado e eles puserem as moedas em meus olhos, o fogo confortável e acolhedor me adormecerá e o barqueiro me levará para casa.

4 comentários:

  1. O que você escreve e tão profundo que merece ser lido cuidadosamente várias vezes.
    Eu sempre saio daqui refletindo sobre os seus versos.
    Sinto saudades...
    Beijos

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  2. Grande amigo...
    Que mal há ver o pesar e a obscuridade da vida?
    Sim, há um mal imenso.

    Perder tempo não olhando averiguando, experimentando o que se tem de melhor nessa vida.

    Sim, concordo contigo. As pessoas são más.
    Mas há de concordar comigo, não de todo mal elas se fazem. Há luz, há vida, há humanidade. Felicidade e amor.
    Onde há amor, há vida.
    Onde há vida, há amor... Nós estamos vivos (ainda)... Portnato, somos AMOR também.
    e o amor tem muito de belo...

    E não...não é utopia, hipocrisia ou ingenuidade...também sou má, sou escura, sou profana e obscura quando se tem que ser.

    Grande beijo...Saudade

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  3. Fico pensando nas palavras de Gilberto Gil, quando ele diz "não tenho medo da morte, mas sim medo de morrer, qual seria a diferença, vc há de perguntar, é que a morte já é depois, que eu deixar de respirar, morrer é ainda é aqui, na vida, no sol, no mar, ..."
    Sorte a minha de saber que vc não morre! Que dentro de ti há VIDA e não apenas sobrevivência, se é que vc me entende!
    Beijooo Cleber

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