quinta-feira, 24 de maio de 2007

Outono

Uma ilusória sensação de adaptação, é notável minha anti-sociabilidade...
Meio perdido entre personalidades tão parecidas...
Num esforço descomunal, da minha parte, sou bem aceito...
Relações interpessoais se sucedem, inevitáveis...
Meu lado diplomático adormecido aflora-se, a costumeira intolerância descansa...
Me sinto a vontade, na medida do possível...
Uma estranha sensação de conforto, tentativa constante de adaptação...
Minha notável impaciência inquieta-me...
Distancia-me, involuntariamente, daqueles que aparentemente me suportam...
Minha mente me engana, inverte os papéis...
Confusão confortável, conveniência inquietante...
A realidade perturbadora me abraça fria...
Vejo claramente todos os meus mundos, universos paralelos, retorcidos, distorcidos...
Eu segui o caminho para o deserto, o sol brilha mas é tudo tão escuro...
As cores do outono me comfortam...
Dias passam, flores caem, pessoas morrem...
Arrependimentos, frustrações, não importam mais...
Apenas seguirei minha trilha, sem lamentações, afinal...
Eu escolhi caminhar sozinho...

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Um domingo qualquer...

Dia nervoso... Solitário... esperei tanto por isso...
Agora só quero companhia, não as de sempre, alguma nova...
Dia chuvoso e ensolarado, tento esquecer o que já deveria ter feito...
Porque me deixa deveras preocupado...
Sintomática é minha irresponsabilidade...

Apenas sentado no sofá o dia inteiro...
Os jogos se sucedem, meus olhos cansam...
Indesejáveis se tornam permanentes...
E ao som do sono alheio caio no sono

Passar o dia esperando por outro cansa...
O medo da improbabilidade de sucesso esgota...
Derrotismo exacerbado, realismo sensato... sinônimos...
Tantos erros, tão poucas lições aprendidas...

A música acalma, enerva, excita...
Uma curta viagem até um outro estado de espírito...
Interrompida pela noite...
O tempo passa inevitávelmente...

Ruas se sucedem sob meus pés...
Temos destino definido, a ausência inesperada surpreende...
Agora sem rumo, caminhando aleatóriamente... respirar...
Aglomeração, silêncio interompido... não em minha mente...

Desconectado, tantas perguntas sem resposta...
Lembrar dos olhos dela, cegar minha razão...
Tomo o caminho errado pra chegar em casa...
A jornada me acalma... longos 35 minutos...

A quietude do lar vazio... a água fria do chuveiro...
Meu estômago enjoado reclama...
Preciso de algum estímulo...
Porque a noite vai ser longa...

quarta-feira, 2 de maio de 2007

O Estereótipo Baiano



Bem, esse é apenas um breve e rasteiro comentário sobre o que eu penso a respeito da imagem difundida da Bahia mundo afora.
Claro que essa é uma opinião minha, sem nenhuma pretensão em ser o dono da verdade.

Pensando-se num âmbito geral, quando se fala de Bahia as primeiras imagens que vêm à mente são, o carnaval, as belas praias, a suposta hospitalidade do povo e sua alegria constante, enfim, infindáveis conceitos cantados em prosas e versos, forjados em telas de cinema e televisão e disseminados turisticamente ao redor do mundo. Afinal, como atrair turistas sem boa publicidade? Uma imagem negativa de um estado com belezas naturais tão exuberantes não beneficiaria a ninguém. Entretanto, essa idéia foi difundida com demasiada energia que mesmo os baianos passaram a acreditar piamente nesse conceito superficial, ficando completamente alheios às particularidades negativas que os próprios enfrentam no dia a dia, como se na Bahia tudo fosse incomensuravelmente maravilhoso, “onde é verão o ano inteiro e todos são felizes”.
Claro que não dá para negar todas as riquezas naturais e culturais desse estado que foi o ponto de partida para a “descoberta” do Brasil. A história da Bahia é inegavelmente rica, tecida por culturas estrangeiras completamente antagônicas, formando assim uma identidade própria que caracteriza o povo baiano e a própria Bahia. O sincretismo religioso, que funde ritos do candomblé africano com o catolicismo europeu, a capoeira e até mesmo o carnaval, são elementos marcantes dessa cultura. Isso sem falar nos grandes poetas e músicos baianos que se destacam ao redor do globo.
A argumentação é que essas notórias qualidades não podem esconder todos os problemas sociais existentes, a falta de saneamento básico, moradias precárias, violência urbana, desemprego, a saúde e a educação públicas em frangalhos, enfim, todas as dificuldades que a maioria da população sofre diariamente sem nenhum amparo do estado. E todos os problemas citados se restringem praticamente só à capital Salvador, não dá pra listar aqui os percalços que acometem a população de todo o estado. Enquanto isso, as classes mais abastadas, que são cerca de 5% da população, se divertem ao ver um preto, pobre, louco e sem dentes numa tela grande de cinema.
É preciso desmitistificar este conceito de felicidade reinante e prestar-se mais atenção aos visíveis problemas alastrados, não só na capital, Salvador, mas também no restante do colossal estado baiano.