quarta-feira, 15 de março de 2017

UM PARAÍSO NO HORIZONTE

Improvável como parecia ser, com um abraço quebrou-se o gelo. Embora  parecesse fria e tensa, ela apreciou o gesto. Algo ficou entre eles naquele estacionamento e os encontros seguintes iniciariam algo belo.

Começou com uma dança. Ele, desajeitado, não era um estusiasta do rebolado. Mas, por ela dançou muitas vezes. E gostou. Ela tinha a malemolência da Bahia no corpo. Ele adorava observá-la, não conseguia conter o sorriso.

Seus mundos, tão diferentes, fundiram-se em apenas um. Muitos lugares foram testemunhas daquele amor. Entre cervejas e entorpecentes, eles viajaram juntos... de todas as formas. O mundo era como um parque de diversões, esperando para ser explorado.

Tiveram seus mometos de de crise, mas aquela essência era o que os mantinha unidos. Todas as tardes em casa jogando video game, as escapadas para o paraíso no litoral baiano, as noites de rock e sinuca no Pub, as dezenas de vezes que dançaram ao som dos ritmos africanos...

Ah, e o sexo. Eles tinham essa conexão rara. O mundo desaparecia ao redor deles... apenas as respirações ofegantes eram ouvidas. Seus corpos se entrelaçavam, os fluidos corporais se misturavam... era um mundo só deles.

Nada parecia abalá-los. Era como um conto, cuidadosamente escrito para terminar em final feliz. Mas a vida prega peças e a mente humana esconde mistérios obscuros, capazes de estragar a mais bela das histórias. Em algum momento ele sucumbiu... ela tentou salvá-lo, salvar o amor dos dois... mas parecia tarde demais...

Aquela amor  não surgiu pra ter um fim... era grande demais, bonito demais... mas aparentemente tudo na vida tem um fim... e alguns desgastes podem precisar de novas cores, novos ângulos...

A espera, o silêncio... esperançoso. O vazio simplesmente não parecia real, mas alguma coisa parecia dizer que ele seria preenchido novamente... certamente o mundo era mais belo, enquanto o amor deles florescia...

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

SOBRE UMA FLOR DE INVERNO...

Ah, a doce curiosidade da juventude... como um pássaro numa gaiola, ela gorjeava timidamente... Seus olhos buscavam o horizonte, ansiando alcançar aquela linha distante... Seu coração palpitava acelerado e seus olhos se enchiam de esperança.

Ela queria ser livre... voar por aí, sem rumo. Ela queria sentir o vento em seu rosto, queria sentir o medo da incerteza... sim, a adrenalina de correr sozinha, de escalar a montanha sem saber o que há no topo. Ela queria conhecer o desconhecido...

Ela não procurava por companhias, não buscava onde se agarrar... não é disso que se trata a liberdade. Ela estava em busca de mais sonhos... das sensações inebriantes, de sentimentos entorpecentes... dos sabores que a vida oferece...

Ela tinha a coragem para cortar as raízes que a prendiam... ela tinha o desejo de ser algo além do que se espera... ela era um pássaro aprendendo a voar. E como era lindo observá-la... seu voo era como uma dança coreografada milimetricamente, porém, ainda assim, a coisa mais espontânea já observada...

Seu sorriso iluminava os ambientes, seu olhar acalmava a alma da mais feroz e raivosa criatura... suas palavras soavam como uma música... benevolente e doce... sua coragem e carisma a fariam chegar onde ela queria... ninguém duvidava disso...

Ela teve sua cota de tempestades... a liberdade cobra seu preço, às vezes. Mas ela aprendeu a voar mais alto que as nuvens... onde é possível fechar os olhos e contemplar o sol.. onde a brisa acaricia seu lindo rosto e a faz sentir-se viva...

E ainda que os ventos soprem contra... Ela continuará voando, cada vez mais alto... Sozinha ou não... 

domingo, 20 de janeiro de 2013

BAIANA NÃO PRATICANTE

De Clara Albuquerque, repórter do Correio

Não, eu não gosto de carnaval. Não, eu não conheço a música nova de Ivete Sangalo ou Claudia Leite e muito menos me interesso se uma delas anda de ônibus. Não, eu não tenho balangandãs e, portanto, realmente, Caymmi, eu não vou ao Bonfim. 

Não, eu não espero o ano inteiro pelas festas de verão. Eu não gosto de caruru. Não, eu não "me bato, me quebro tudo por amor, eu sou do pelô". Não me peça pra escolher entre Asa de Águia e Chiclete com Banana. Não pulo quando ouço nenhum dos dois. Capoeira, Banda Eva, água de côco? Não, não e não também. E, não, eu não corro pra praia quando faz sol. Na verdade, eu fujo de calor. Do humano também. 

E haja calor humano pra tanto verão. Porque se a Bahia é Bahia e as pessoas esperam que você sorria, ela é ainda mais gargalhada no Verão. Como um caldeirão cheio de bolinhos de felicidade que ferve no dendê da baiana, aquela de branco, de torço na cabeça mesmo, "sabe não"? E ai de você que não saiba fazer quindim ou cocada, que não seja uma menina faceira, que não vá "atrás do trio elétrico dançar ao negro toque do agogô, curtindo sua baianidade nagô ô ô ô ô ô". 

Porque parece que pra merecer o título de baiana você tem que ser assim: uma mistura retada de alegria, ritmos e cores que brilham ainda mais entre dezembro e março. Um pontinho de simpatia eterna e gratuita exposto numa prateleira ao lado de uma caixa de som bem alta, tocando axé, é claro, pronto pra fazer alguém feliz. 

Me poupem de tanto confete. Porque baiano também pode gostar de rock, também pode ser reservado, também pode preferir o silêncio, também pode ser ateu (simpatizante ou não do candomblé). Sabe aquela história que dá pra ser mulher e também gostar de futebol, ser rockeiro e não usar drogas, ter tatuagem e não ser marginal? Pois bem, dá pra gostar de Jorge Amado, sim, sem ser uma Gabriela, e também é possível viver em Salvador sem ser um tabuleiro de diversão, feitiço e afeição ambulante. 

E pra terminar o desabafo, antes que vocês me amarrem com fitinhas do Bonfim e me obriguem a escutar o novo hit da estação, enquanto jogam pipoca em mim, eu assumo: sim, eu gosto de acarajé e visto branco na sexta-feira. E pra que não fique nenhuma dúvida, apesar de todos os nãos deste texto, encerro com um sim, dito de boca bem cheia: sim, eu sou baiana.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

A GLÓRIA DA QUEDA

Aquele céu cinzento fitou-me severamente. Desafiou-me a mergulhar em sua densa melancolia. Mal dava pra ver o azul através daquelas fendas tímidas entre as nuvens. Ali a luz do deus sol atravessava e atingia meus olhos, como um chamado para uma batalha. Ele, disfarçadamente, impeliu-me a contemplar sua coroa mais de perto, até que o calor me empurrasse para baixo, fazendo-me fugir do fogo que me consumia. Aquele mergulho no infinito, e junto o vento que mal permitia-me abrir os olhos para admirar a beleza na imensidão.

Eu era leve. Escutava tudo e ao mesmo tempo nada, mas a recompensa era a sensação; de estar sozinho, de ter, mesmo por poucos minutos, o mundo e o silêncio aos meus pés. Era como deitar nas nuvens, repousar minhas dúvidas no fundo de um poço escuro e esquecê-las. Eu era apenas eu; sem sombras, sem medos, sem receios, e no rosto aquele sorriso que não sei dar. Era o único plano traçado... O desfecho de uma jornada insignificante... A queda do esquecimento eterno.

E como eles rezaram, oraram, pediram, condenaram... Não sabem a sensação, não sabem da angústia, não conhecem a claustrofobia mental... Não sou culpado, nem inocente, apenas vivo... Vivi... Pouco tempo para se arrepender. E quando os mundos lá dentro desmoronaram, só sobrou o vácuo, o vazio, as estrelas mortas e seu brilho opaco... Aquele brilho que apaguei dos meus olhos há muito tempo, aquele brilho que voltou naquele instante que eu caí... Naquela fração de segundo em que meu corpo quebrou-se em pedaços...

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

ACORDE

Você não é o seu emprego. 
Nem quanto ganha ou quanto dinheiro tem no banco. 
Nem o carro que dirige. 
Nem o que tem dentro da sua carteira. 
Nem a porra do uniforme que veste. 
Você é a merda ambulante do Mundo que faz tudo pra chamar a atenção. 

Nós não somos especiais
Nós não somos uma beleza única. 
Nós somos da mesma matéria orgânica podre, como todo mundo.


Tyler Durden - No filme Clube da Luta (Fight Club) - 1999.