quinta-feira, 26 de agosto de 2010

REVOLTA MÉDIO-CLASSISTA

Era uma tarde ensolarada de sábado e o tradicional “baba” na quadra do Ponto Certo (bairro da industrial Camaçari) estava a algumas horas de começar. Como tínhamos tempo sobrando até o início da peleja futebolística, decidimos caminhar do subúrbio, onde moro, até a quadra – cerca de 40 minutos. Serviria de aquecimento. Conversa vai, conversa vem, começamos a falar de religião, então soltei a famosa máxima: “Ei! Futebol, política e religião não se discutem!”. Frase esta que foi seguida de uma uníssona e debochada gargalhada de ambos. O papo chegou na política e enquanto discutíamos a inexpressividade dos atuais candidatos à presidência, começamos a, de certa forma, lamentar o fim do governo Lula. É, isso mesmo. Lembramos de nosso entusiasmo na época da primeira vitória do atual presidente e de como as coisas mudaram – para melhor – de lá para cá. Alguns devem estar pensando: “Lá vem um discurso de mais um fanático lulista...”. Mas quem me conhece sabe que não o sou e que até tenho muitas críticas ao governo do Presidente Lula. Estou apenas falando como brasileiro que viveu este período de um ângulo “privilegiado”.

Ultimamente tenho notado muitas críticas e reclamações de muitas pessoas contra o governo de Luís Inácio. Essas pessoas falam com uma revolta quase comovente. Notei também que a maioria dessas pessoas pertence à chamada classe média. A veemência com a qual criticam dá a entender que este governo foi o pior da história do Brasil. Pior inclusive que os vinte anos de ditadura que o país viveu. Mas daí me pergunto: Como pode um governo com mais de 70% de aprovação ter sido ruim? Explica-se. O Brasil é e sempre foi um país de maioria pobre. E as atuais reclamações partem da minoria médio-classista. É possível que, neste governo, a vida desta parcela nobre da terra brasilis, não tenha prosperado o suficiente para ascendê-los ao patamar faraônico com o qual eles sonham. A maioria pobre do país, aprova o governo Lula porque para essas pessoas sim a vida melhorou substancialmente. 

Digo isso porque eu vi. Vi pessoas que não tinham o que comer, não passarem mais fome. Vi eternos desempregados retornarem extenuados e satisfeitos, após um dia de trabalho. Vi amigos, outrora fracassados, prosperarem ao montarem seus próprios negócios e não falirem, como antes. Vi quem nunca sequer sonhou em estudar em uma universidade ingressar no mundo acadêmico. Isso tudo nos últimos oito anos. Não acho que seja coincidência.

Digo isso porque vivi. Aqui em casa sempre estudamos em colégio público, meus pais não podiam pagar por educação particular. Nunca fomos das famílias mais pobres, mas não fosse a astúcia financeira de minha mãe, teríamos passado dificuldades sim. Universidade para nós, sempre pareceu uma utopia, pois, com a péssima educação da rede pública do Brasil, não tínhamos nenhuma condição de adentrarmos em uma universidade pública. E com o salário que meus pais ganhavam, não dava para pagar uma particular. De 8, 9 anos para cá, tudo mudou muito rapidamente. Minha irmã se formou, eu estou quase lá. Foi de minha mãe que ouvi pela primeira vez que “Lula foi o melhor presidente que este país já teve”.

Não estou dizendo que foi perfeito, que não houve erros. Claro que houve, como em todos os governos. Poderia ter feito mais? Talvez. Mas foram só oito anos e mesmo assim muita coisa mudou para muita gente. Para uma parte da população que nunca se sentiu beneficiada. Os programas “assistencialistas” são questionáveis? Sim. Mas isso é um paliativo até que o país se desenvolva o suficiente para não mais precisar deles. A segurança pública foi um problema? Sim. Mas como consertar, em oito anos, uma coisa que vem desde os primórdios do país? Algumas decisões em relações internacionais foram questionáveis? Sim, bastante. Mas é inegável que o Brasil adquiriu uma notoriedade global que “nunca antes na história desse país” chegou a alcançar. Não dá para ignorar tudo isso. Falo isso porque vi e estou vendo, é fácil criticar do alto de palacetes acarpetados, quando não se conhece a realidade das coisas.

Não sou “lulista”, não sou petista. Nunca fui. Votei nele? Sim, votei. Deixando qualquer tipo de partidarismo ou ideologia de lado, estou falando de fatos, de coisas que eu vi. De coisas que meus pais (tão apartidários quanto eu) viram em governos passados. Fatos, apenas isso. Mas talvez as críticas mais ferozes existam porque a parte beneficiada da população não mereça “prosperar” também. E antes que comecem a dizer que estou fazendo campanha para a Dilma Rousseff, parem de falar babaquice. Votem no Serra se quiserem, não dou a mínima. Cada um vota em quem quiser. Só fiz uma constatação em cima dos fatos. 

Ah! O “baba” rolou e, como habitualmente acontece, eu fiz a diferença. Eu Jogo demais!