Certa vez um amigo chegou à minha casa, meio constrangido, parecia que queria pedir algo. Vendo o visível desconforto da criatura, perguntei o porquê de tal visita, o que estava havendo afinal. E aquela pessoa adulta queria que eu o acompanhasse para assistir um espetáculo de dança para o qual ele fora convidado por uma garota que iria se apresentar. Pouco depois fiquei sabendo que ele tinha chamado outro amigo nosso. Resumindo, ele não queria ser visto sozinho entrando num teatro para ‘apreciar’ um espetáculo de dança. Eu, naturalmente, como bom amigo que sou, relutei muito em aceitar o convite. “Onde já se viu? Espetáculo de dança? E ainda terei de pagar?! Pode esquecer!”. Mas, como amigo é pra essas coisas, resolvi acompanhá-lo, após o infeliz garantir que pagaria meu ingresso, é claro.
Chegando ao teatro o nosso desconforto era visível. Aquela era a primeira vez dos três num espetáculo de dança, tudo motivado pelo interesse de nosso amigo na garota já citada. Caso não houvesse tal motivação, nem ficaríamos sabendo da realização do evento. Adentramos o recinto, nos acomodamos em nossas poltronas e começaram as apresentações. Era algum tipo de competição de dança, vários grupos, duplas e também individuais disputavam algum prêmio. Vimos performances extravagantes, outras completamente sem graça e algumas infantis, houve algumas que eu achei bem sexuais também. Não estou reclamando. Enfim, a pergunta comum aos três, era: “A que horas a garota iria se apresentar para que pudéssemos ser poupados daquela tortura?”.
Finalmente chegou o momento. Ela subiu no palco sozinha, fez alguns movimentos completamente impensáveis para minha anatomia limitada de futebolista de fim de semana, mas que fizeram minha imaginação fantasiar, o que mais ela poderia fazer com toda aquela elasticidade. Isso mostra bem como estávamos prestando atenção no espetáculo em si. Terminada a apresentação da ‘amiga’ de nosso amigo, o festival de dança continuaria e nós três, contagiados pela magia do recém descoberto mundo maravilhoso da dança, prontamente nos levantamos e fomos embora – após, obviamente, fazer contato com a garota e elogiar sua brilhante apresentação. Nossa primeira experiência com um espetáculo de dança acabava ali. Mas fizemos uma promessa: Nunca mais frequentar este tipo de espetáculo.
Deve ter sido a primeira promessa que cumprimos, ou pelo menos estamos cumprindo até hoje. Obviamente muita coisa mudou de lá pra cá e apesar de não ser meu tipo favorito de entretenimento, não vou dizer que nunca irei a um espetáculo de dança novamente. Não me incluo na porcentagem de brasileiros que saem pra dançar, que segundo o IBGE, representam 28,8% da população. Nem gosto. Mas não estou mais no dado que confirma que 78% dos brasileiros nunca frequentaram este tipo de espetáculo. Errado. Ainda estou incluído sim, afinal, essa ida ao teatro foi completamente forçada.
Minha relação com a dança acabou naquele dia. Se é que se pode chamar isso de relação. E é, de certa forma, triste que a maioria dos brasileiros não frequente espetáculos assim, às vezes por pura falta de informação. Como já disse, não é o tipo de atração que me faça sair de casa, mas com certeza tem muita gente por aí que se interessa por isso, mas que por não se informar, acaba perdendo ótimas oportunidades de ver apresentações de qualidade. Mas, quem sabe algum dia, eu volte a frequentar um espetáculo de dança e dessa vez para realmente apreciar as apresentações. E quem sabe a dança me contagie tanto que eu termine gostando e até queira aprender a dançar também... Não, sem chance.