domingo, 16 de novembro de 2008

Clebração da Euforia Utópica



O sono cansado do dia seguinte me remete à noite anterior, uma noite quente de uma quarta-feira cinza. Numa improvável sucessão de acontecimentos que desencadearam num final impensável para desafortunados no que diz respeito à sorte. Todos os tortuosos caminhos eram consideravelmente imprevisíveis, os cães ladravam, e embora mansos, suas intenções pareciam perversas. A noite e a ansiedade transformaram a cidade num traiçoeiro e interminável labirinto, enquanto ignorávamos atentos os sub-humanos chafurdando o lixo da metrópole.

Jornada essa iniciada com a certeza de uns e uma despreocupada incerteza de outros. Os encontros e desencontros de uma diversão coletiva previamente planejada já eram previsíveis o bastante para evitar comportamentos aflitivos. Obviamente a ansiedade era natural com a iminência demorada da chegada ao local do evento, afinal, esperamos descrentes alguns anos de nossas vidas para poder desfrutar da barulhenta e confortável companhia de alguns heróis remanescentes do autêntico grunge de Seattle.

Toda a expectativa seria recompensada. Apesar de alguns imprevistos, eles (o Mudhoney) subiram imponentes ao palco e descarregaram alguns de seus clássicos. A multidão ensandecida, surpreendentemente, berrava a plenos pulmões algumas das músicas do quarteto de Seattle. A atmosfera era incrível. E toda a espera, no fim valeu a pena.

Após o final do show, extenuados pela diversão, restava-nos voltar à nossa cidade, tarefa complicada, considerando o horário. Mas não era uma noite qualquer. Apesar de tudo conspirar para o nosso fracasso na tentativa de retorno e da insistência irritante de alguns “companheiros” para que desistíssemos de nossa empreitada e aceitássemos sua gentil hospitalidade ao nos oferecer abrigo, permanecemos otimistas (quem diria) de que nossa corrida não seria em vão. Se desse errado, a rua seria nosso quarto durante aquela noite, sem direito a dormir.

Mas como disse antes, aquela não era uma noite qualquer, era nossa noite de sorte (provavelmente a primeira). Nossa chegada atrasada ao ponto de ônibus nos reservava uma inesperada surpresa, o veículo que seria nosso transporte para casa, e que, àquela hora, já deveria ter partido, apresentou problemas mecânicos e estava lá, parado. Apenas esperamos a chegada do substituto para rumarmos de volta à nossa província industrial.


Quando finalmente chegamos, já não havia forma de irmos para casa a não ser os sempre perspicazes e confiáveis motoboys, então decidimos ir a pé. Ignorando os riscos óbvios de caminhar cerca de 3km em plena meia-noite de quarta-feira, seguimos despreocupados, recordando o dia desde seu início, quebrando o silêncio da noite, a cidade era nossa.

Dormir era apenas um detalhe, o dia fora bom, diversão, álcool, rock and roll, subversão de algumas regras, e a companhia de bons e velhos amigos. Todos os dias deveriam ser assim, mas uma realidade dessas é apenas utopia, infelizmente.

domingo, 2 de novembro de 2008

SEM RAIZ...



Sem mais perguntas vazias, minha mente faz uma jornada de autoconhecimento. Definir uma direção implica em planejamento, metas e responsabilidades em demasia, talvez eu não seja a pessoa mais preparada para tal coisa. Alguns chamam isso de irresponsabilidade ou negligência, e talvez seja mesmo, talvez eu não tenha sido moldado para ser enquadrado num determinado contexto.

Eu fui do céu ao inferno e vice-versa por algumas vezes, vi as coisas se acertarem para logo em seguida desmoronarem, vi as chances passarem sem serem aproveitadas, vi minha expressão inerte naquele espelho sujo, tão inerte quanto minha questionável personalidade. Seguindo um padrão catastrófico de fracassos sucessivos, mantive-me coerente diante da incoerência reinante, sem negar a natureza derrotista na qual mergulhei.

Diante da abundância de sugestões, palpites e "conselhos", aprendi os dogmas da milenar arte da indiferença, certo de que não haveria julgamento a um ser tão insignificante quanto eu. Minha discutível importância seguiu nula em minha mente perturbada e minha inexpressiva face permaneceu gélida e cinza.

Em minha sagrada ignorância me perdi num mundo utópico de sonhos impossíveis – pelo menos para mim – e a inevitável decepção decorrente da expectativa jogou-me no abismo da desilusão. Porém, fracassos anestesiaram minha alma, decepções não existem porque não há mais expectativas, esperanças ou qualquer vestígio de otimismo. Agora lúgubre, permaneço em silêncio.

Embora ainda questione parte das escolhas que fiz não me sinto a vontade nem motivado, nunca me senti, na verdade. E todas as coisas que vivenciei aparentemente não serviram para nada. Minha inutilidade me decepciona. Não sei bem para onde ir e nem porque ir, também não sei se devo seguir uma direção ou se foi minha paranóia que piorou nos últimos anos, e embora não esteja certo de nada, de uma coisa sim, tenho certeza, embora não saiba se espiritualmente ou fisicamente, sei que meu lugar não é aqui... não mais...