sábado, 26 de julho de 2008

NUBLADO


Em meio a uma furiosa tempestade, sua esperança se dissolveu lentamente e sua vontade se esvaiu, enquanto o único sonho ao qual não queria abrir mão parece que se tornou inatingível. Tomou uma difícil decisão, esquecer o tal sonho e parar de alimentá-lo, já que o considerava quase que uma utopia, embora esse sonho estivesse ao alcance de suas mãos ele sabia que nunca o pertenceria. Na verdade não sabia, apenas não se considerava merecedor. O sonho parecia mais belo enquanto estivesse longe dele, se considerava uma incômoda sombra que encobria o brilho divino desse sonho.
Teve pesadelos, suas olheiras tornaram-se notáveis, seu mundo comprimiu-se e sua personalidade distorcida pela angústia se perdeu nos confins de sua mente. Questionou-se quanto tempo aquilo duraria, até que percebeu que jamais passaria, teria que aprender a conviver com a dor. Sua conhecida frieza glacial seria finalmente testada, poderia enfim saber se controlava sua vontade ou se era uma mera marionete de seus próprios desejos. Tomado por um sentimento desconhecido que o fazia sentir-se fraco e vulnerável, que o jogava pra baixo como algum tipo de gravidade, que o encolhia diante de uma tenra lembrança, apenas chorou. Era só medo, um medo profundo de viver sem esse sonho, conheceu o medo real finalmente.
Decepcionado com tamanha demonstração de fraqueza, quis desaparecer, buscar um lugar desconhecido, um refúgio para descansar sua alma. E ao fechar os olhos deparou-se com belas e verdejantes planícies, onde a brisa macia tocava seu rosto como a epiderme daquele seu sonho improvável, foi então que a tempestade voltou e todo o verde cintilante daquelas paragens se transformou em lama e decepção. Agora ele sabia que por mais longe que fosse ou tentasse ir, jamais esqueceria aquele sonho, porém sabia também que estar perto e não poder realizá-lo seria doloroso como a morte deve ser. A vida se tornaria uma constante tentativa de ocupar a mente para esquecer o que tanto se almejou.
Enfim conformou-se com seu destino, embora não acreditasse em tal coisa. Sem perceber durante sua jornada até aqui, foi sendo lapidado ás avessas, como num processo retroativo, uma involução gradativa. Conformou-se, apenas escondeu-se por trás dos sorrisos alheios provocados propositalmente por ele mesmo, encarou a angustiante verdade que negara até então, porém não mais podia fugir dela. Era isso, fora moldado para morrer sozinho, apenas as sombras das nuvens o acolheriam e o confortariam, até o fim.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Vazio...

Ele não queria saber
Quantos dias pra entender
Tão só, cansado de esperar
Suplicando por perecer...

Entre sons buscou perceber
Quantos dias tinha pra crer
Na paz, com coração a queimar
E o inferno pra carregar

Pôs os pés no chão
E quis esperar
Toda a dor passar

Corre em suas veias, ilusão e dor
Sem mais promessas, quando o tempo for...
Mais frio que todos aqui
Sonhos distorcidos, “apenas me deixem só”

Ele não queria saber
Quanto medo podia ter
Nem mais um minuto de paz
A esperança só se desfaz

Verdades demais
Tanto pra esquecer
Pouco pra saber

E um inferno pra suportar...